TDAH: desvendando os mitos sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade

Você já se perguntou por que algumas pessoas parecem ter um “motor ligado” o tempo todo, enquanto outras vivem “no mundo da lua”? Ou talvez você mesmo se reconheça nessas situações e se questione se isso é normal. Bem, hoje vamos conversar sobre algo que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo, mas que ainda carrega muito preconceito e desinformação: o TDAH.

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade não é “falta de educação”, “preguiça” ou “frescura“, como muitos ainda pensam. Na verdade, é uma condição neurológica real que merece nossa atenção e, principalmente, nosso respeito. Além disso, quando bem compreendida e tratada adequadamente, pode até mesmo revelar talentos e habilidades únicas.

Dessa forma, neste texto abordaremos o que realmente é o TDAH, quais são suas características neurobiológicas, como identificar os sintomas e você descobrirá que existe tratamento eficaz e esperança para quem convive com essa condição.

O que é TDAH: entendendo a neurodivergência

Começando pelo básico, TDAH é uma condição neurodivergente. Mas o que significa essa palavra bonita que está tão em alta ultimamente? Simples: “neuro” vem de cérebro e “divergente” significa diferente. Ou seja, estamos falando de um cérebro que funciona diferente do que consideramos mais típico ou conhecido.

Essa diferença não é algo negativo, como muitos podem pensar. Na realidade, é apenas uma forma alternativa de processamento neurológico. Contudo, em uma sociedade que valoriza padrões específicos de comportamento e desempenho, essas diferenças podem gerar desafios significativos no dia a dia.

Portanto, quando falamos de TDAH, estamos nos referindo a uma condição que acompanha a pessoa desde a infância e influencia a forma como ela interage com o mundo ao seu redor.

As bases neurobiológicas do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade

Para entender melhor o TDAH, precisamos olhar para dentro do cérebro. A principal alteração que encontramos é uma redução de dopamina e noradrenalina em algumas áreas cerebrais específicas. Esses neurotransmissores são fundamentais para nossa capacidade de concentração, controle de impulsos e regulação da atividade.

Além disso, pesquisas cada vez mais avançadas têm descoberto alterações estruturais importantes. Encontramos diferenças no volume cerebral em regiões como o córtex pré-frontal, gânglios da base e cerebelo. Essas áreas são responsáveis por funções executivas, controle motor e planejamento.

Consequentemente, todas essas alterações químicas e estruturais se manifestam através de sintomas específicos, que podem variar entre hiperatividade e desatenção. Agora vamos ver como esses sintomas se apresentam na prática.

Sintomas de desatenção: quando o foco escapa

Os sintomas relacionados à atenção são frequentemente os mais sutis, mas não menos impactantes. Primeiro, temos a dificuldade em prestar atenção em detalhes, o que resulta em erros por descuido tanto no trabalho quanto na escola. Essa característica pode gerar muito sofrimento, especialmente quando a pessoa é rotulada como “desleixada” ou “irresponsável“.

Outro sintoma marcante é a dificuldade em manter a atenção em tarefas por períodos prolongados. Além disso, a pessoa pode parecer que não escuta quando alguém lhe dirige a palavra diretamente. Isso não é desrespeito ou desinteresse, mas sim uma característica neurológica do TDAH.

Também observamos dificuldades para terminar trabalhos, atividades ou tarefas escolares, além de problemas para organizar essas atividades de forma eficiente. A famosa procrastinação também entra aqui, especialmente quando se trata de tarefas que exigem grande esforço mental. Por fim, a tendência a perder objetos importantes como chaves, celular ou esquecer o fogo ligado, junto com a facilidade de distração por estímulos externos, completam esse quadro sintomatológico.

Sintomas de hiperatividade: quando o corpo não para

Por outro lado, os sintomas de hiperatividade são geralmente mais visíveis e, infelizmente, mais estigmatizados. A pessoa com essa apresentação do TDAH frequentemente remexe ou batuca com mãos e pés, demonstrando uma inquietação constante que é difícil de controlar.

Ademais, há a tendência de levantar da cadeira em situações onde seria apropriado permanecer sentado, como no trabalho ou na escola. Muitas vezes, a pessoa corre ou age como se tivesse um “motor ligado“, sendo incapaz de relaxar ou ficar quieta por períodos prolongados.

Um sintoma particularmente desafiador socialmente é a tendência de interromper conversas ou responder antes mesmo que as perguntas sejam totalmente elaboradas. Isso pode dar a impressão de má educação, quando na verdade é uma manifestação neurológica do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.

É importante ressaltar que todos esses sintomas precisam causar prejuízo significativo na vida da pessoa, seja no ambiente doméstico, nas relações pessoais ou no trabalho.

Diagnóstico de TDAH: critérios essenciais

Agora surge a pergunta que muitos fazem: “Doutora, eu me sinto distraído, sem foco, cansado, irritado e mais impulsivo. Eu tenho TDAH?” A resposta é: depende. O diagnóstico não é tão simples quanto identificar alguns sintomas.

Um critério fundamental é que esses sintomas devem estar presentes antes dos 12 anos de idade. Esse é um ponto crucial que muitas pessoas não sabem. Portanto, se os sintomas apareceram apenas recentemente, especialmente no período pós-pandemia ou devido a mudanças no trabalho, isso provavelmente não é TDAH.

Vivemos numa época de alta demanda por performance, metas aceleradas e bombardeio constante de informações através das telas. Consequentemente, muitas pessoas desenvolvem sintomas similares ao TDAH, mas que têm outras causas. O verdadeiro TDAH é uma condição que acompanha o indivíduo desde a infância.

Como o tema era pouco discutido no passado, muitas pessoas chegam à idade adulta sem diagnóstico. Nesses casos, fazemos uma avaliação especializada com psiquiatra ou neurologista, frequentemente com apoio de testes neuropsicológicos, para investigar o padrão de desenvolvimento desde a infância.

Psicoeducação: o primeiro passo do tratamento do TDAH

Uma vez estabelecido o diagnóstico, iniciamos o que chamamos de psicoeducação. Esse processo é tão importante quanto qualquer outro aspecto do tratamento, pois envolve compreender completamente sua condição. Quando você entende o que é o TDAH e como seu cérebro funciona, consegue tanto se perdoar quanto funcionar melhor.

A psicoeducação permite que você identifique suas limitações, mas também reconheça seus benefícios únicos. Isso mesmo, o TDAH não é uma condição de perda cognitiva. Pelo contrário, é um funcionamento diferente que frequentemente resulta em maior criatividade e atenção aprimorada para possibilidades que outros não percebem.

Muitas pessoas com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade são mais inovadoras, pensam fora da caixa e têm uma capacidade única de ver soluções onde outros veem apenas problemas. Entretanto, nossa sociedade tem dificuldade em lidar com o que considera “desconhecido” ou “diferente”.
Ajustes de rotina: construindo uma base sólida

Após a psicoeducação, partimos para ajustes de rotina. É importante saber que nem todo caso de TDAH será medicado imediatamente. Primeiro, precisamos estabelecer uma rotina saudável que inclua sono adequado, alimentação balanceada, exercício físico regular e acompanhamento terapêutico consistente.

Esses ajustes permitem que a pessoa se organize melhor naturalmente, às vezes sem necessidade de medicação permanente. Além disso, hábitos saudáveis ajudam a equilibrar os níveis de dopamina no cérebro, o que é fundamental para quem tem TDAH.

A busca por dopamina em pessoas com essa condição frequentemente leva ao uso de álcool, tabaco, cannabis, jogos compulsivos, compulsão alimentar ou vício em telas. Todas essas atividades liberam dopamina rapidamente, mas de forma não sustentada. Por isso, fazer escolhas mais saudáveis é fundamental para o bem-estar a longo prazo.

Medicação no TDAH: quando e como usar

Quando necessário, entramos com medicação. Os medicamentos de primeira linha para TDAH são os estimulantes, que têm ganhado grande repercussão atualmente. Eles funcionam aumentando os níveis de dopamina e noradrenalina nas sinapses cerebrais, melhorando a comunicação entre neurônios.

Também podemos usar medicamentos que aumentam apenas a noradrenalina ou até mesmo antidepressivos, especialmente porque o TDAH raramente aparece isolado. Pessoas que enfrentam dificuldades na execução de tarefas, procrastinação e menor rendimento frequentemente desenvolvem ansiedade ou depressão.

Isso acontece porque elas não conseguem responder às demandas sociais da mesma forma que pessoas sem TDAH, gerando frustração e sofrimento emocional. Portanto, é essencial tratar também essas condições associadas, como transtornos de ansiedade, depressão, uso de substâncias ou transtorno opositor desafiador.

A esperança está no tratamento adequado

O TDAH é um diagnóstico abrangente e extremamente importante que pode impactar positivamente a vida de qualquer pessoa que receba tratamento adequado. Não se trata de uma limitação permanente, mas sim de uma condição que, quando bem compreendida e manejada, pode até mesmo se tornar uma vantagem em determinadas situações.

Se você se reconhece nesses sintomas ou identifica essas características em alguém próximo, saiba que existe ajuda disponível. O mais importante é buscar avaliação profissional especializada e não tentar fazer autodiagnóstico. Cada caso é único e merece atenção individualizada.

Lembre-se: ter TDAH não significa ser menos capaz ou inteligente. Significa apenas ter um cérebro que funciona de forma diferente, e essa diferença pode ser transformada em força quando você conta com o suporte adequado.

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Lílian Félix - Doctoralia.com.br
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