IssoPodAjudar: desmistificando a psiquiatria em Jundiaí

Recentemente, tive o prazer de participar do podcast “IssoPodAjudar“, do Jornal de Jundiaí, apresentado pelo Edvaldo Toledo. Foi uma experiência incrível poder conversar de forma leve sobre saúde mental e compartilhar conhecimentos que podem ajudar tantas pessoas da nossa região.

Durante nossa conversa, conseguimos abordar temas fundamentais que ainda geram muitas dúvidas. Portanto, gostaria de compartilhar com você os principais pontos que discutimos e aproveitar para reforçar algumas mensagens importantes sobre cuidado psiquiátrico.

Assista o episódio aqui.

Tópicos importantes

A diferença entre tristeza e depressão

Um dos pontos que mais me chamou atenção durante o podcast foi quando falamos sobre como distinguir uma tristeza passageira de um quadro depressivo. Essa é uma dúvida muito comum que recebo aqui no consultório.

Como seres humanos, não fomos treinados para identificar nossos sentimentos. Na verdade, somos ensinados a rejeitá-los, como se sentir tristeza, ansiedade ou medo fosse sinal de fraqueza. Entretanto, esses sentimentos são completamente normais e adaptativos.

A tristeza se torna preocupante quando os sintomas se intensificam gravemente, causando prejuízos na sua funcionalidade. Quando você não consegue mais realizar suas tarefas cotidianas, quando sente tristeza praticamente todos os dias, e principalmente quando desenvolve anedonia – que é a perda de prazer em atividades que antes você gostava -, aí é hora de buscar ajuda profissional.

O papel fundamental da família no processo

Durante nossa conversa, também destaquei como a família pode ser um suporte essencial. Muitas vezes, são os familiares que percebem as mudanças comportamentais antes mesmo da própria pessoa.

O segredo está na observação respeitosa e na validação dos sentimentos. Vivemos num mundo tão automático que às vezes não percebemos as mudanças nas pessoas ao nosso redor. Estar disponível, oferecendo suporte sem pressionar, faz toda a diferença. Dizer “estou aqui quando você precisar, posso ir com você na consulta” transmite segurança e acolhimento.

Quebrando preconceitos que ainda existem

Infelizmente, ainda há muito preconceito em relação ao tratamento psiquiátrico em Jundiaí e em todo o Brasil. As pessoas demoram muito para chegar ao consultório, chegando frequentemente com quadros mais graves do que se tivessem buscado ajuda precocemente.

Esse preconceito vem da história difícil da psiquiatria, dos julgamentos sociais e também do medo do desconhecido. “Será que o remédio vai me dopar? Vou engordar? Vou ficar dependente?” São perguntas legítimas que devem ser esclarecidas durante a consulta.

É importante entender que a psiquiatria é uma especialidade médica como qualquer outra. Assim como você procura um cardiologista para cuidar do coração, o psiquiatra cuida da sua saúde mental com o mesmo rigor científico.

Esclarecendo as diferenças profissionais

Um ponto que gerou muito interesse no podcast foi quando explicamos a diferença entre psiquiatra, psicólogo e terapeuta. Ainda há muita confusão sobre esses papéis.

O psiquiatra é um médico que estudou seis anos de medicina e depois mais três anos de residência em psiquiatria. Nós avaliamos, diagnosticamos e tratamos, podendo prescrever medicamentos e também realizar psicoterapia. Eu mesma me especializei em psicanálise, para dar mais fundamento para meus pacientes.

O psicólogo, essencial no tratamento, trabalha com diferentes abordagens terapêuticas para melhorar padrões de pensamento, crenças e comportamentos. Não conseguimos fazer um tratamento robusto em saúde mental apenas com medicação. Por isso, gosto de enfatizar o trabalho em conjunto de psiquiatra e psicólogo para o sucesso dos tratamentos.

O termo “terapeuta” é mais genérico e pode se referir tanto a médicos quanto a psicólogos que fazem terapia, ou até mesmo a terapias alternativas. Por isso é fundamental verificar a formação e credenciais de qualquer profissional.

Como é realmente a primeira consulta

Durante o podcast, pude desmistificar como funciona a primeira consulta psiquiátrica. A palavra-chave é acolhimento. Antes de tudo, preciso entender quem é essa pessoa que chegou ao meu consultório.

Não se trata apenas de sintomas, mas de compreender sua vida: relacionamentos, trabalho, religião, vínculos familiares, hábitos de vida. Por isso, gosto de dizer que o sintoma é apenas uma fase do adoecimento. Antes dele, existem problemas do dia a dia, traumas e questões que precisam ser compreendidas.

A consulta psiquiátrica é mais intensa e densa, mas não passa de uma conversa mais longa. É um espaço seguro onde você pode se expressar sem julgamentos.

Nem sempre é necessário medicamento

Algo que surpreende muitas pessoas é saber que nem sempre saem da primeira consulta com receita médica. Existem casos onde a orientação inicial envolve atividade física acompanhada, terapia e mudanças no estilo de vida. A medicação entra para ser um suporte para essas mudanças de hábitos, se necessário.

Para quadros de ansiedade leve ou depressão leve, frequentemente a primeira linha de tratamento não envolve medicação. Reavaliamos em consultas de retorno se há necessidade de introduzir medicamentos.

Quando há indicação de medicamento, explico detalhadamente como funciona, possíveis efeitos colaterais e sempre esclareço que o tratamento bem feito tem início, meio e fim. A medicação não é inimiga, mas também não deve ser uma muleta.

Cuidado com tratamentos da moda

Durante nossa conversa, também abordamos a questão dos polivitamínicos e tratamentos que estão “na moda” nas redes sociais. Embora deficiências vitamínicas possam contribuir para sintomas psiquiátricos, principalmente a vitamina B12, é importante ter cuidado com promessas de cura rápida.

Sempre solicito exames no primeiro atendimento para investigar possíveis causas orgânicas, mas sou contra o uso indiscriminado de doses altíssimas de vitaminas ou hormônios sem indicação precisa.

Uma experiência enriquecedora

Participar do “IssoPodAjudar” foi realmente gratificante. Conseguimos abordar temas complexos de forma acessível e, principalmente, ajudar a desmistificar a psiquiatria para os ouvintes de Jundiaí.

Agosto é um mês especial para falarmos sobre saúde mental, e este podcast foi apenas o começo de uma série de episódios que planejamos para este período tão importante.

Espero que nossa conversa tenha esclarecido dúvidas e incentivado mais pessoas a cuidarem da sua saúde mental sem preconceitos. Lembre-se: buscar ajuda é sinal de coragem e autocuidado.

Cuidar da mente é tão importante quanto cuidar do corpo.

Você merece viver plenamente.

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Lílian Félix - Doctoralia.com.br
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