Você já parou para pensar quando foi a última vez que realmente se permitiu celebrar sua existência? Não apenas marcou uma data no calendário, mas verdadeiramente investiu tempo e energia em honrar sua jornada até aqui?
Esta semana, eu, Dra. Lílian Félix, completei 35 anos, e algo transformador aconteceu. Depois de anos sem uma festa de aniversário de verdade, tomei uma decisão consciente: iria celebrar minha vida, mesmo que isso significasse esforço, investimento e energia. E entre músicas dos anos 90, amigos queridos e a família que veio me visitar, redescobri algo fundamental sobre o cuidado comigo mesma e a beleza de estar viva.
Dessa forma, neste quero compartilhar com você a importância de celebrarmos nossa existência mesmo em momentos imperfeitos, como as comemorações funcionam como medicina preventiva para nossa saúde mental, e você descobrirá por que investir em celebração é, na verdade, investir em autocuidado e bem-estar emocional.
Quando a vida adulta nos rouba as celebrações
Eu sempre gostei de comemorar aniversários. Na infância, adolescência, início da vida adulta, havia uma magia especial nessas datas. Mas então veio a vida adulta com suas correrias, responsabilidades, contas para pagar, problemas para resolver. E, gradualmente, as comemorações foram ficando mais escassas.
Por isso, podemos afirmar que a vida moderna tem uma tendência a nos desconectar dos rituais de celebração pessoal. O cansaço físico e mental nos faz priorizar apenas o essencial para sobrevivência, deixando de lado aquilo que alimenta nossa alma. Vejo isso constantemente no meu consultório: pessoas que se tornaram tão funcionais que esqueceram de viver plenamente.
Aos 30 anos, a festa que eu queria não aconteceu. Veio a pandemia, vieram questões pessoais complexas. A vida, como costuma fazer, teve outros planos. E é exatamente por isso que a decisão aos 35 anos se tornou tão significativa – não era o momento perfeito, mas era o momento necessário.
A decisão consciente de celebrar: um ato de coragem
Aos 35 anos, olhei para minha vida. Aos 35 me fiz uma pergunta crucial: “Por que não investir tempo em algo que me traz alegria?” Sim, fazer uma festa dá trabalho. Sim, é oneroso. Sim, demanda energia quando já estamos cansados. Mas por que investimos tanto tempo resolvendo problemas e tão pouco tempo celebrando conquistas?
A neurociência nos ensina que celebrações ativam circuitos neurais de recompensa e bem-estar, liberando dopamina e serotonina. Por isso, podemos afirmar que escolher celebrar é, literalmente, uma prescrição médica para nossa saúde mental. Quando decidimos conscientemente investir em momentos de alegria, estamos praticando medicina preventiva de forma profunda.
Esta não era necessariamente o melhor ano da minha vida. Meu estado mental não estava no ápice, minha energia não estava nas alturas. E foi exatamente por isso que a decisão se tornou tão poderosa. Como sempre falo para meus pacientes: temos intencionalidade sobre nossas escolhas. Podemos escolher pausar, respirar e celebrar, mesmo quando a vida está nos desafiando.
A beleza dos tons de cinza: celebrando a vida imperfeita
Uma das reflexões mais importantes que tive durante minha festa foi sobre a natureza não-linear da vida. Não estamos sempre no branco ou no preto. Vivemos momentos cinza, onde algumas coisas funcionam bem e outras não. E isso é completamente normal e humano.
Por isso, celebrar não significa que tudo está perfeito – significa que escolhemos reconhecer o que está funcionando bem, mesmo quando outras áreas precisam de atenção. Durante minha festa, pude pausar e refletir com sobriedade: muitas coisas andavam muito bem. Minha família, meu companheiro, meus amigos, minha profissão, meu lar. Havia muito pelo que ser grata.
Eu sempre recomendo aos meus pacientes que pratiquem essa “frieza saudável”. A capacidade de observar a vida de forma mais completa, reconhecendo que nunca teremos controle total sobre tudo, e que isso está perfeitamente bem. A vida sempre será uma mistura de desafios e bênçãos.
O investimento em autocuidado através da celebração
Decidir fazer minha festa foi, fundamentalmente, um ato de autocuidado. Foi escolher investir tempo e energia em algo que me trouxesse alegria, da mesma forma que invisto em resolver problemas ou cumprir responsabilidades. Se dispensamos tanto tempo para o que é difícil, por que não dispensar tempo para o que é bom?
Estudos demonstram que eventos celebrativos criam memórias duradouras que funcionam como recursos emocionais em momentos difíceis. Por isso, podemos afirmar que celebrar nossa vida é uma estratégia inteligente de construção de resiliência emocional. Estamos, literalmente, criando um banco de experiências positivas para acessar quando precisarmos.
Na minha experiência clínica, observo que pacientes que cultivam rituais de celebração pessoal desenvolvem maior autoestima e senso de autoeficácia. É como se, ao honrarmos nossa jornada, declarássemos a nós mesmos que merecemos cuidado e alegria.
A medicina das memórias
Uma das descobertas mais lindas da minha festa foi perceber como os momentos passam rápido. Tanto os momentos bons e os ruins. Mas o que fica na memória são as comemorações, os momentos em que podemos reforçar nosso esforço, o que temos de bom e que nossa vida é, acima de tudo, maravilhosa.
A neurociência da memória nos mostra que eventos emocionalmente significativos criam memórias mais fortes e duradouras. Por isso, digo que investir em celebrações é investir na qualidade de nossas lembranças futuras. Quando estivermos passando por momentos difíceis, poderemos acessar essas memórias como fonte de força e esperança.
Acredito profundamente que precisamos ser intencionais sobre que tipo de memórias estamos criando. Se passamos a vida toda apenas “sobrevivendo”, que herança emocional deixamos para nós mesmos? Mas quando escolhemos celebrar, estamos plantando sementes de alegria que florescerão em momentos futuros.
A intencionalidade como ferramenta de bem-estar
Não precisamos esperar que tudo esteja perfeito para celebrarmos. Podemos escolher pausar no meio da correria e criar momentos de descanso, lazer e reconhecimento.
Como gosto de falar, a intencionalidade é uma das ferramentas mais poderosas que temos. Quando escolhemos conscientemente investir em nossa alegria, estamos exercendo uma forma sofisticada de autocuidado. Estamos dizendo para nós mesmos: “Eu mereço momentos bons. Eu mereço celebrar minha existência.”
Eu recomendo que todos pratiquem essa intencionalidade celebrativa. Não precisa ser uma festa grande – pode ser um jantar especial, um encontro com amigos, um momento de reflexão gratidão. O importante é a decisão consciente de honrar nossa jornada.
O convite à celebração consciente
Enquanto escrevo estas palavras, ainda carrego comigo a energia transformadora daquela festa. Foi uma decisão muito acertada, e agora entendo por quê: porque escolhi investir em mim mesma, em minha alegria, em minha capacidade de reconhecer a beleza da vida que tenho.
Se você está lendo este texto e reconhece em si mesmo essa tendência de deixar as celebrações para depois, considere este um convite à reflexão. Quando foi a última vez que você investiu tempo e energia em comemorar sua existência? Quando foi a última vez que parou para agradecer pela vida que tem, com todas as suas imperfeições e belezas?
Se você está passando por um momento difícil e a ideia de celebrar parece impossível ou até artificial, saiba que é exatamente nesse momento que mais precisamos nos permitir pausas de alegria. Procure um psiquiatra ou psicólogo para te ajudar a redescobrir sua capacidade de celebração e gratidão. Aqui na clínica, entendemos profundamente a importância desses rituais de autocuidado.
Porque no final, cada aniversário que celebramos conscientemente é um investimento em nossa saúde mental, um ato de resistência contra a dureza da vida moderna, e uma declaração de que nossa existência é preciosa e digna de celebração. Aconselho de coração: permita-se celebrar. Você merece.
